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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Metatexto

Escrevo para ficar por aqui, como diz Rubem Alves. Para ficar por aí, na blogosfera, nos corações ou no ostracismo. Escrever, assim como cantar, parece com não morrer, conforme a velha e boa música do cearense Ednardo.

Portanto, nada me resta senão preencher esta página, este monitor, estes bits com as palavras, essas pobres que já foram criadas e que ainda não me bastam.

Escrevo porque tenho uma chama a arder para além de mim, a cogitar de coisas de que não dou conta, a iluminar o escuro que às vezes me assalta.

Escrevo porque me falta. Falta-me entender os mistérios que sempre me humilharão. Falta-me exercitar mais o lado criador que a Divindade soprou em mim. Falta-me semear um átimo de beleza, ainda que tênue, em horas de imbecilidade. Falta-me, sobretudo, ser eu inteiro, juntar os cacos, tecer o fio dos fatos e lhes dar sentido.

Escrevo porque, às vezes ilha, quero me fundir ao mar, emendar no continente, sair mundo afora, tricotando letras, significados e afetos.

Escrevo porque já me escreveram no coração tantos beijos, tantos olhares, tantos sonhos, tantas expectativas frustradas, tanta censura, muito amor e muitos ais. É preciso, às vezes, acalentar o que é bom dessa memória longínqua e passar um antivírus no resto.

Escrevo, afinal, para que a prosa seja quase poesia, para que a vida seja quase romance, para que mágoas quase não haja, para que dúvidas quase não espantem e para que o encanto quase não tenha fim.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Família!




Briguei com os Titãs, publicamente, há alguns meses, por causa da
horrorosa música de abertura de uma novela das seis e de alguns conceitos nada celestiais que a banda (de maneira consciente ou não) passa em boa parte de suas músicas. Embora eu não esteja propriamente arrependido, reconheço que eles também têm coisa boa.

Carpe diem

Os perigos da falta e do excesso de assunto

Sofro de uma patologia que acomete 90% da população: quando me sento num banco de praça, num banco de ônibus ou, raramente, num de avião, tenho medo de encontrar pessoas que conheço pouco ou quase nada.

São, curiosamente, os chamados “conhecidos”, mas que de fato não conhecemos, a não ser, eventualmente, o nome e o local onde supomos tê-los visto pela única ou última vez.

Confesso preferir topar com pessoas “totalmente” desconhecidas ou, ao contrário, as mais chegadas, pelo interesse em páginas em branco ou por saber um pouco sobre a vida e alguns gostos do vizinho ocasional.

Quando o encontro com o “conhecido” acontece numa fila de banco ou numa rua, tudo bem: é somente um oi ou alguns minutos de falta de assunto. Mas falta de assunto por longos minutos ou por horas é algo constrangedor.

O problema é que, nesses casos, temos que ser superficiais ao extremo, pois, se perguntamos pelo marido ou pela esposa, a figura já pode estar com outra figura e a pronúncia do nome do(a) ex pode lhe talhar o sangue. Se perguntamos como está D. Maria, ela pode ter morrido, coincidentemente, há poucos dias e reaquecermos o luto. Se perguntamos como anda o modesto bairro em que supúnhamos morar o interlocutor, podemos ter como resposta:

– Você deve estar variando. Eu nunca morei lá.

Aí, ou você se enganou, pensando conhecer a pessoa, ou sua memória está confundindo Milionários (onde ficam os pobres) com Funcionários (onde ficam os ricos). E o projeto de conversa foi pelo ralo.

O pior é que ainda não descobriram uma maneira de tentar fazer um papo decolar sem perguntas. Pode ser, no entanto, que eu tente algo mais ou menos assim:

– Olá, eu sou Pedro, tenho certeza de que se lembra de mim. Estou bem; e você, pelo visto, está muito bem!

Esse jeito inovador, no entanto, gasta até ponto e vírgula, exclamação e, dependendo da entonação desse “muito bem”, pode soar como uma cantada. Mesmo que, a rigor, não soe, vai entender o que a pessoa quer ouvir...

Por isso o bom mesmo pode ser encontrar um amigo de agora ou de antigamente e ir logo lascando, com a maior liberdade:

– E essa pança aí, véi? Você não tinha...

– Você também não tinha essas varizes... E ainda tem coragem de andar de bermuda?

– Cara, mas a saúde tá até boa. Fora a pressão alta, a glicose um pouquinho acima e uns probleminhas na coluna, meu check-up ficou ótimo.

– Também você não joga mais bola, não é?

– É claro que não. Tanto é que o Dunga quase me convocou para a África...

– O que faz aqui na fila do geriatra, com menos de cinquenta?

– Tô esperando minha mulher.

– Pô! Casou de novo? A primeira era uma gatinha.

– Ainda é. Está com trinta e cinco e veio acompanhar a mãe, que tem sessenta e cinco. Por sinal, minha sogra é muito conservada, vaidosa e atraente. Nem parece velha...

A sexagenária, que saía da sala e ouviu o final da conversa, dispara:

– Tá me chamando de velha, seu safado?

– Safado não, mamãe! Respeito com o Ricardo!

– Você não sabe o que ele anda fazendo...

– D. Florinda, eu não fiz nada! A senhora se insinuou para mim. E só rolaram uns beijinhos...

– Isso porque a Mariana chegou da academia na hora H.

E eu, inocentemente, pensava que conhecia bem o Ricardão, sem saber dessa versão perigosa, a atacar até gente da família, inclusive a insuspeita e ajeitada D. Florinda.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ipês amarelos



" (...) Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui...
Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...".

(RUBEM ALVES)

domingo, 15 de agosto de 2010

O primeiro som a gente nunca esquece


No final dos anos 70, esse som era um verdadeiro Fusquinha: em toda rua havia pelo menos uma meia dúzia. Ele ficou lá em casa alguns anos, até que as receitas (às vezes consorciadas) dos irmãos adolescentes - precoces trabalhadores - permitissem um 3 em 1, ou um de melhor pedigree, ou algo do gênero que tratasse melhor os nossos vinis.

Lembro-me que esse velho e aceitável Philips, pau pra toda obra, funcionou também como amplificador para meu primeiro FM, trazido pelo Tio Oscar da Zona Franca de Manaus em 1980. Um dos hits da época, na recém-inaugurada Inconfidência, a Brasileiríssima, era Toada, bela canção interpretada pelo Boca Livre:

"Vem, morena, ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz..."

Anos antes dessa minha "conquista", Carlos Alberto, meu primo, vulgo Carô, já ostentava um Gradiente com imponência e potência pra fazer inveja em meu atual e pouco recomendável vizinho. Nada mau para uma casa que saía do jurássico toca-discos a pilha da Marê. Perto daquele novo som "primal", o meu se tornava tribal, um indefensável pé-de-boi.

Ednardo e outros nordestinos, mormente cearenses, mandavam e desmandavam na preferência musical deste apaixonado pela música. Quase todos os meses, eu comprava um LP (long play, para os não iniciados), que custava uma fábula para os padrões proletários: algo como 10% do salário mínimo.

Saibam os incorrigíveis jovens que, naquela época, havia máquinas de escrever, folha de carbono, mimeógrafo a álcool, carburador no carro e lamparina na roça, além de outras excentricidades capazes de, juntas, encher uma mesa de escritório sem a funcionalidade de um mísero pen drive de meio giga. Tempos remotos e divertidos, de TV com bumbum, com seletor de canais (!!!) e sem cor, nos quais, no entanto, a gente era feliz e não sabia.

Boniteza musical



Há anos perdi um CD com outras pérolas e ela, esta desconhecida e linda música na voz de JOANNA:

VERTIGEM

(Caio Sílvio - Graco)

Eu sou o que me pede o coração
Na hora que a saudade me desperta
E me deixa sem razão
Desenho o teu rosto na paisagem
Na face escura da cidade
Te contemplo com a mesma paixão
Como se o último beijo
Fosse o primeiro
Como um romance, um cinema
Assisto ao drama impossível
Sem querer me entregar
À vertigem de perder-te

Te foste como as cores
De uma velha aquarela
Deixaste tantas sombras
Samambaias na janela
Que na lembrança ainda me refazem
Me devolvem teu perfume
Se o passado é tão presente
Em cada instante, cada cena
Não é passado
É somente minha vida que estancou
E como louca ouço valsas
Noites, beijos na varanda
Tua voz dizer-me coisas
És um soneto antigo

Outra belíssima da cantora - CHAMA (link abaixo)

http://www.vagalume.com.br/joanna/chama.html


sábado, 14 de agosto de 2010

Quem diria? Ele já foi quase bonito...




À medida que foi se "desenvolvendo" na arte de não jogar futebol nem deixar que os outros jogassem (nesse último aspecto ele é imbatível), Dunga saiu de um aspecto quase bonito para um visual tosco, agressivo, pós-modernoso, sendo um dos raros exemplos de homem que não fica mais bonito na fase madura. Ora, direis: esse blogueiro cruzeirense acha homem bonito? Sim. Não há outro adjetivo para o antiDunga acima. Ele mesmo: Paolo Maldini.